Comentário ASTROLOGUE-SE: Um excelente texto para nos posicionar
diante da nossa condição de humanos, na atualidade e de nossas possibilidades
irreversíveis e que já batem às nossas portas.
Duas faces de uma mesma moeda. Assim é a vida. |
Duas
lagartas estavam rastejando no chão. Uma delas era um pouco mais jovem enquanto
a outra era um pouco mais velha. Estavam em um dia frio de inverno com uma leve
neblina. A lagarta mais velha virou-se para a mais jovem e perguntou:
- Estava
pensando. Será que um dia nós, lagartas, poderemos voar?
A outra
lagarta, mais jovem, fica um pouco inquieta com a pergunta e diz.
- Claro
que não! Nós, lagartas, somos seres rastejantes. Vivemos nos arrastando pela
terra e essa é a nossa realidade.
A lagarta
mais velha pensou por um momento e disse:
- Mas
será que um dia, quem sabe, não poderemos deixar essa condição limitada aqui no
solo e nos tornarmos mais livres? – Especulou.
Te afirmo que não! – disse, confiante, a
lagarta mais jovem. – Nossa vida é esta aqui mesmo, neste estado larval.
Caminhar pela terra, subir em algumas árvores, alimentar-se de pequenas folhas
de plantas, e viver dentro dos limites de nossa espécie. Essa é a nossa
realidade. Você precisa abrir os olhos e aceitar a realidade das coisas, ao
invés de ficar matutando nestes sonhos de liberdade, independência e leveza.
Isso nada mais é do que uma expressão do seu
desejo.
A lagarta mais velha ficou um pouco envergonhada de ter
soltado tanto sua imaginação. Mas ao mesmo tempo pensou como seria bom ao menos
poder sonhar com uma condição melhor no futuro. Então, mesmo temendo a iminente
incompreensão de sua companheira, arriscou-se e disse:
- Mas
pense bem. Mesmo que nós estejamos submetidos e presos sempre em terra firme,
ou subindo e descendo de plantas e limitados em nossa percepção, talvez existam
membros de nossa espécie que, futuramente, possam estar num estado mais livre.
Não sei se você sabe, mas há algumas histórias de lagartas que passaram por uma
espécie de transformação…
- Sim, eu
já ouvi algumas destas histórias – disse a lagarta mais jovem – mas não passam
de mentiras para enganar os incautos. Querem que acreditemos em fantasias de
asas, leveza, vôo, visão panorâmica, mais rapidez, e outras ilusões. Se existem
mesmo essas lagartas de asas, onde elas estariam?
A lagarta
mais velha ficou em dúvida. Isso parecia ser verdade. Jamais havia visto uma
lagarta de asas, voando. No entanto, retrucou:
- Mas
veja só. Talvez, pela nossa própria condição de seres rastejantes, estejamos
tão presos e acostumados a olhar apenas para o solo, ou para o próximo
passo, que sequer prestamos atenção ao céu, ou contemplamos o alto, para que,
talvez, algum dia pudéssemos vislumbrar a liberdade e a rapidez de uma suposta
lagarta voadora. Não se esqueça que, daqui de baixo, não conseguimos enxergar
direito as coisas que ocorrem no céu.
A lagarta
mais jovem começou a pensar nessa possibilidade, mas logo rechaçou seus
pensamentos e disse:
- Não! Se
isso fosse mesmo possível, nós já saberíamos. Já teríamos visto essas lagartas
voadoras!
A lagarta
mais velha refletiu e, com toda sinceridade, questionou:
Nossas transformações internas mudam a humanidade. |
- De
jeito nenhum! Estou apenas falando de nossa realidade observável, de nossa
vida, de nossa realidade. Não há nenhuma prova de que isso seja verdadeiro.
Aceite-se tal como é, e será mais feliz. – disse a lagarta mais jovem.
As duas
lagartas encerraram o diálogo, e depois desse dia não se falaram mais.
Passado
algum tempo, a lagarta mais velha sentiu algo de diferente. Subiu num local
mais alto e formou um casulo. Dentro do casulo, sentiu uma forte transformação,
e logo que rompeu a casca, saiu como uma linda e colorida borboleta.
Voando
por sobre seu antigo lar pôde avistar, lá embaixo, sua amiga mais jovem, a
lagarta que, um dia, havia duvidado da liberdade e da leveza. A borboleta planou
bem próximo de sua antiga, mas a lagarta não pôde vê-la. Ela então pensou:
- Ah, se
ela soubesse…
Autor: Hugo Lapa
Nenhum comentário:
Postar um comentário