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quarta-feira, 20 de março de 2013

TEXTO 01: QUEM DESCOBRIR O SENTIDO DESTAS PALAVRAS, NÃO PROVARÁ A MORTE.



Comentário (Hubert Rohden):

Esta primeira palavra de Jesus referida por Tomé logo revela o caráter místico do seu Evangelho. Os livros sacros usam a palavra “morte”, tanto em sentido físico, como metafísico e aqui “morte” quer dizer a permanência no plano do ego humano, ignorando o Eu-divino do homem, porquanto nenhum homem se imortaliza pela mentalização do seu ego, mas tão somente pela transmentalização rumo a seu Eu, ao seu Atman, a sua Alma, que é o espírito de Deus em forma individual.

Já no livro do Gênese, a palavra “morte” é usada em sentido metafísico, quando o Elohim, as potências divinas, dizem a Adão: “Se comeres do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (do ego), logo morrerás”. Adão comeu desse fruto e viveu ainda diversos séculos. O texto não se refere à morte do corpo físico, mas sim à morte do ego-mental. O homem, pelo despertamento do ego-consciência, permanece no plano da mortalidade. Somente subindo ao plano superior da “árvore da vida” é que ele entrará na imortalidade. O homem pode mortalizar-se e pode, também, imortalizar-se. A serpente da Gênese simboliza o ego-mortal, o poder que esmagará a cabeça da serpente representa o Eu imortal. Esse processo evolutivo do ego-mortal para o Eu-imortal vai, através de todos os livros sacros.

O próprio Cristo se identifica com o Eu-imortal quando se compara à “serpente erguida às alturas”, que preserva da morte os que haviam sido mordidos pelas serpentes rastejantes do ego humano.

Na filosofia oriental, aparece a palavra kundalini, cujo radical kundala significa serpente, símbolo da energia cósmica. A kundalini dormente no chakra inferior da coluna vertebral representa o subconsciente do homem primitivo, quando ele desperta e rasteja horizontalmente, entra na zona do ego-consciente e quando a kundalini se verticaliza e atinge as alturas, então entra o homem no mundo do cosmo consciente, onde ele se imortaliza.

O homem é potencialmente imortal ou imortalizável, mas não é, atualmente, imortal, se assim fosse, não poderia sucumbir à morte metafísica. A imortalização, ou imortalidade atual, é a conquista suprema da consciência cosmo-crística do homem. Nesse sentido, afirma o Evangelho: “A tal ponto amou Deus o mundo que lhe enviou seu filho unigênito, para que todos aqueles que com ele tenham fidelidade não pereçam, mas tenham vida eterna”.

Também a história do filho pródigo usa a palavra “morto” em sentido metafísico: “O pai daquele jovem dia que seu folho estava morto e reviveu, estava no ego e passou para o Eu”. E toda a subsequente alegria e felicidade só se compreende quando se sabe que simboliza a apoteose de um ser humano que se auto realizou, passando da ego-consciência mortal, para a Eu-consciência imortal.

Também no caso do discípulo que queria sepultar seu pai, antes de atender ao convite de Jesus, o Mestre usa a palavra “morte” em dois sentidos, físico e metafísico: deixa os (espiritualmente) mortos sepultarem os seus (fisicamente) mortos.

O Credo Apostólico afirma que o Cristo julgará os vivos e os mortos, isto é, os que vivem na cosmo-consciência e os que ainda rastejam na ego-consciência.

Tomé refere as palavras do Cristo divino proferidas através do veículo da personalidade humana de Jesus: “Quem descobrir o sentido destas palavras não provará a morte”, quem compreender, pela intuição, o sentido profundo das palavras deste Evangelho, esse não ficará no plano do ego humano, mas se imortalizará pela consciência do Eu divino.

Compreender não é inteligir, entender, mas é saber ou saborear com todas as potências do espírito. Essa sapiência ou saboreamento espiritual, só acontece ao homem quando ele se abre rumo ao Infinito em cosmo-meditação, em Cristo-conscientização. A verdadeira meditação é uma invasão Cristo-cósmica na alma do homem. Enquanto o homem é ego pensante, nada de grande lhe acontece, mas quando se torna cosmo-pensado, cosmo-agido, cosmo-vivido, então lhe acontece a invasão cósmica do espírito de Deus, que resolve todos os problemas da vida terrestre e introduz o homem na vida verdadeira.

Nesta primeira palavra do seu Evangelho, Tomé já antecipa uma verdadeira síntese de todas as verdades seguintes. E, à luz dessa intuição mística, indigitou ele, o caráter fundamental da sua mensagem. A tal ponto Tomé descreu no princípio, que, por fim, ultrapassou todo o descrer e também todo o crer e atingiu as culminâncias de um saber e saborear Crístico.

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