As
primeiras palavras parecem diametralmente opostas aos ensinamentos de Jesus
referidos pelos outros evangelistas. Mas, convém não esquecer que Tomé é
intransigente defensor da pura interioridade, que condena frontalmente todo e
qualquer ato oriundo do ego humano. De fato, jejuar, orar, dar esmola, pode ser
pecado, quando esses atos são praticados meramente pelo ego externo, como Jesus
faz ver repetidas vezes. A Filosofia Budista chega ao ponto de ver uma profunda
e permanente tragicidade, em toda e qualquer atividade humana, porque o nosso
agir é, quase sempre, um ego-agir, um agir em nome e por amor ao nosso ego
ilusório. Parece que nunca nenhum pensador ocidental desceu a esse último nadir
de profundidade, de ver tragicidade e pecaminosidade em toda e qualquer
atividade humana. Entretanto o budismo tem razão, porque todo o agir do homem
profano é um falso-agir, um agir, não somente através do ego, mas também em
nome e por amor a esse ego, uma permanente egolatria, ou idolatria, que onera o
homem de sempre novos débitos ou karmas.
Em
face dessa tragicidade do agir, que gera débito, muitos orientais preferem o
não-agir ao agir. Somente os grandes Mestres da espiritualidade descobriram uma
terceira atitude, equidistante do agir e do não-agir, que é o reto-agir, isto
é, agir em nome e por amor ao nosso Eu divino, ao nosso Cristo interno.
As
palavras de Jesus acima referidas condenam jejuar, orar, dar esmola, como falso-agir,
agir em nome e por amor ao ego; mas não condenam o reto-agir, agir por amor do
Eu divino, da auto realização.
Mas,
para que o homem possa reto-agir, agir por amor ao seu Eu divino, embora
através do seu ego humano, deve ele conhecer esse seu Eu divino. De maneira
que, reto-agir supõe como premissa autoconhecimento.
Na
segunda parte da sentença acima, volta o Mestre a demolir um dos mais queridos
ídolos de muitas das nossas sociedades espiritualistas, interessadas em fazer
depender a evolução espiritual do conteúdo do estômago. Alguns vegetarianos
consideram a comida como fator decisivo de espiritualidade, quando Jesus nunca
deu preceitos sobre isto. Para ele, o alimento mental e emocional é muito mais
importante para a espiritualidade do que qualquer alimento material. A saúde
espiritual depende mais do que nasce e sai do coração e da mente do que daquilo
que entra pela boca e vai para o estômago. Todo o homem sinceramente espiritual
sabe instintivamente o que lhe convém comer ou não comer; o seu cardápio não
lhe é ditado por nenhum livro, preto sobre branco, mas pela intuição da sua
alma.
O Chacra Cardíaco forma um Hexagrama Central. |
Comentário do Blog –
ATMAN: Da lição acima podemos
depreender que o externo tem que ser consequência, nunca causa. Quando focamos
o início de nossa consciência da jornada, em busca da iluminação, num fato
externo, comer, por exemplo, nos equivocamos. A atitude de iniciar a busca da
iluminação tem que brotar do coração, senão, não chegaremos a lugar algum, que
não seja ilusório.
Todas as nossas “realizações” materiais são a antítese daquilo
que realmente interessa, então, elas devem ser colocadas em seu devido lugar e
ter a importância daquilo que representam, nada mais que isso. Todos os nossos
atos devem, sempre, ser realizados e abandonados, um por um.
Não sei se depois de lerem 14 (quatorze) textos vocês já
chegaram a alguma inferência sobre o tema central deste Evangelho, mas do que
vimos até aqui, ele nos leva a crer que, a única busca necessária é a de nós
mesmos e que o que buscamos já está em nós.
Ora, basta, então, apenas, nos encontrarmos, para resolvermos
tudo!
A questão é: Como fazemos isso?
Muitos já perceberam que já está feito! Se não nos mexermos
mais, daqui por diante, em algum lugar, na régua do tempo nos reencontraremos
conosco mesmos e com nossa Verdade Divina.
Mas seria muito entediante e, então, resolvemos brincar um pouco,
durante a busca, logo após termos perdido nossa consciência Divina. Foi ai que
nos perdemos de nós mesmos, individual e coletivamente.
O processo inverso seria: pararmos, descobrirmos onde estamos,
de onde viemos e, através do coração, para onde estamos indo.
Esta parada estratégica é fundamental para o início consciente
da jornada de volta.
Devemos parar de nos distrair com falsas receitas, amuletos e
crendices que só nos enrolam mais no véu de Maya (ilusão).
A pureza do coração é o único caminho, muitos já a têm, mas não
a usam, não acreditam em si mesmos. Outros acham que já a tem, mas ao invés de
usá-la consigo mesmos, ficam tentando ensinar e doutrinar os outros, gastando
energia em vão.
Não é comendo alface que chegaremos à iluminação, mas fazendo
brotar de nossos corações a Vontade de fazê-lo!
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